quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Encerrando ciclos


Dia desses em meio a uma conversa aleatória, uma grande amiga me disse que a minha velocidade de processamento das coisas é mais rápida que das outras pessoas. Isso me fez rir, pensar um bocado e questionar muito de mim também. Na verdade, acho que me reconheci ali, naquela frase, e passei a prestar mais atenção em como eu me comportava diante das mais diversas situações. Percebi que, justamente por causa desse processamento das informações, sentimentos e dilemas do dia a dia, preciso sempre passar por todo um processo antes de tomar um tombo, uma decisão, de levantar e seguir em frente.

Acho que tudo isso tem decorrência da necessidade enorme que tenho de entender as coisas, as pessoas, o mundo em si e, principalmente, de entender a mim mesma. Por isso, em todas as vezes que enfrentei alguma fase mais difícil – seja ela no terreno pessoal, amoroso, materno ou profissional – foi preciso passar pelas mesmas etapas de sempre: parar, analisar, sentir, olhar lá para dentro, chorar tudo que tiver para chorar, levantar, me perdoar e dizer adeus. Sempre tive esse sentimento de que, antes que qualquer mudança necessária aconteça, é preciso sofrer essa “perda”, passar pelo luto e, então, encerrar aquele ciclo. Ou, como li hoje bem por acaso num texto que circula pela internet e tem sua autoria atribuída a Paulo Coelho:

“Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração… e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar. Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se. Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos.
Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda… Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo…”

Foi assim que me senti no início da semana, depois de ter chorado escondida, logo após deixar a Elis na casa da minha mãe. Sim, talvez tenha sido o cansaço, talvez tenha sido a TPM mostrando suas garras afiadas, talvez tenham sido os hormônios que, no meu caso, andam bem bagunçados. E também pelas montanhas que me propus a escalar, pelos sucessos que ainda não consegui alcançar.

Por isso, sinto que antes que eu possa mudar o que precisa ser mudado, é necessário passar por todo esse processo… deixar a culpa ir embora, soltar as amarras, tirar todo peso que não me pertence dos ombros, desprender do que não deu certo, reaprender e me perdoar pelas falhas que tive. Tudo isso para que eu possa seguir em frente, mas de um jeito novo.

Nos últimos meses tenho me sentido falha... Falta de paciência, de compreensão, de empatia, de comprometimento, de dedicação. Coisas pequenas, que talvez passassem desapercebidas dos demais.

Pois é. Infelizmente nós temos uma facilidade enorme em enxergar nossos erros e em tirar nossos méritos, não é? Até pelo contexto em que vivemos e pelas cobranças constantes dos demais, que cultuam ideias equivocadas e até machistas.

Mas a ficha acabou caindo novamente para mim, dizendo em alto e bom som que esses pequenos erros irão ocorrer sim, porque perfeição simplesmente não existe. Que é impossível manter alguma sanidade mental e equilíbrio emocional tentando dar conta de muito mais do que poderíamos.

Por exemplo, eu sou mãe há quase 2 anos e me sinto como uma aprendiz ainda. Aprendo coisas novas todos os dias. Analiso e reaprendo aquelas que eu jurava que já sabia. Mudo de ideia, de opinião, de ponto de vista constantemente. Então, antes de fechar esse ciclo de entendimento e iniciar o próximo, eu me perdoo.

Mas eu também me perdôo pela inocência de ter achado que eu daria conta de tudo. Por ter assumido muito mais responsabilidades do que deveria. Por querer carregar o mundo nas costas e, de certa forma, facilitar a vida dos demais. Por achar que sou insubstituível ou que os outros não fariam as coisas tão bem quanto eu. Por não ter conseguido delegar e exigir mais de quem também deve ser responsável. Por não ter cuidado mais da minha saúde. Por ter exigido demais de mim mesma e levado as coisas ao limite outra vez. Por ter me subestimado em diversos aspectos. Por ter achado que sabia tudo em outros. E, finalmente, por ter demorado um pouco para sair desse emaranhado todo com uma certeza: eu fui a melhor pessoa que poderia ter sido naquele espaço de tempo.

Hoje, então, eu encerro alguns círculos viciosos que nada mais fazem do que sabotar os meus objetivos, a minha auto estima, as minhas virtudes e as minhas escolhas. Desprendo do meu corpo e da minha alma a preguiça, a procrastinação, a negação e os pensamentos que paralisam. Desvinculo de vez perfeição, porque é impossível sobreviver dentro desse contexto. E, acima de tudo, eu me perdoo – por tudo e por nada.

… parar, analisar, sentir, olhar lá para dentro, chorar tudo que tiver para chorar, levantar, perdoar, dizer adeus. Pronto. Agora posso mudar o que precisa ser mudado, melhorar o que pode ser melhorado.

Se vou pegar a estrada errada novamente? Com certeza. Somos seres humanos em evolução (constante, eu espero!). Mas, se pudesse pedir algo, seria:

“Concedei-me serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar; coragem para mudar as que posso e sabedoria para reconhecer a diferença”. – the serenity prayer

:)

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