quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Mudar é bom


Existia uma sabedoria que costumava valer, sobre o número de órgãos do corpo. Era uma dica valiosa que envolvia uma conta simples: "quem tem 2 olhos, 2 ouvidos e 1 boca, divida o tempo de uso deles de acordo com a quantidade de cada um. Observe e ouça em dobro; fale só a metade."
O resultado, quase sempre, era positivo. Mas isso só valia na época em que se escrevia à caneta no papel, porque, considerando que se usa apenas uma mão por vez para formar palavras assim, os meios humanos de recepção ainda levavam vantagem sobre os de emissão. Mas aí inventaram o teclado e a internet e, diante de 10 dedos hábeis e nervosos, a sabedoria foi para as cucuias...

Eu gosto de pessoas apaixonadas e gosto de pessoas inteligentes. E, embora eu não goste de todo mundo que é apaixonado e inteligente, gosto de grande parte das pessoas que conheço. Mas tenho me decepcionado. Busco me informar também por meio dessa gente - e vejo nela sinais de inteligência e uma paixão abundante na defesa do que cada um acredita, seja lá o que for, mas não encontro mais um sábio capaz de se apaixonar pelas dúvidas. Para um lado ou para o outro. Uma herança interessante que um grande carrasco do passado deixou foi um pensamento sobre a maturidade ideológica. Não lembro as palavras exatas, mas a ideia era que ninguém deveria se arriscar a assumir publicamente uma posição política antes dos 30 anos. Até essa idade, segundo o autor, a pessoa ainda não viveu o suficiente para aprender e formar o conjunto de conhecimentos necessários à defesa de um projeto que pode interferir na vida de toda a sociedade. Ainda de acordo com esse homem, quem se arrisca precocemente a defender um ideal e com o tempo muda de opinião, vai, inevitavelmente, seguir por um de dois caminhos perigosos: ou troca de bandeira no meio do trajeto e perde o respeito daqueles que o seguiam; ou, por vergonha, permanece até o fim defendendo as cores que com o tempo aprendeu a julgar como erradas. Nesse caso, passa-se a vida lutando por algo que está contaminado na raiz, pois o motivo da paixão é orgulho, e não princípio.

Esse é um apelo aos meus amigos inteligentes e apaixonados: não façam parte dessa regra. Permitam-se mudar de ideia, para cá ou para lá. Continuem contando o que sabem, pra que a outra parte também tenha a oportunidade de aprender um novo lado, mas não engessem suas cabeças. Mudar é bom. Não é vergonha nenhuma. Pensar faz bem e, quem sabe, pode levar à conclusão de que não é o time de um ou de outro que tem mais problemas. Pode ser que o próprio esporte, da forma como é jogado, tenha deixado de funcionar.

Concordam?

Um comentário:

  1. Não há mal nenhum em mudar de opinião. Contanto que seja para melhor!!!!
    Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos. Já temos maturidade ideológica suficiente, somos inteligentes sim e loucamente apaixonados em busca de ser feliz...

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