segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Aborto Espontâneo


Ainda não tinha assumido publicamente, mas sofri um aborto espontâneo durante a sétima semana da minha gravidez.
Assim como muitas mulheres, optei pelo silêncio. Li e reli tudo sobre o assunto diversas vezes e cheguei até a tentar consolar meu inconsolável e sentimental coração. Já chorei rios de lágrimas e fiquei horas e horas me martirizando. E, cá entre nós, no fundo, lá no fundo... escondidos atrás da minha máscara de mulher forte e racional estavam a culpa e o fracasso.
Eu me senti completamenta fracassada por perder minha primeira gravidez, por perder a primeira oportunidade de ser mãe, por fazer meu marido ter esperança. Sei, sei... não foi culpa minha, racionalmente eu sei, mas meu coração acha o contrário.

Lembro perfeitamente do dia da consulta para escutar as batidas do coração do nosso filho. Meu marido estava ansioso. Entramos na sala, enfermeira, médica.. tudo era felicidade. Preparados para ouvir o coração? Foi ai que nosso pesadelo começou. O sorriso da enfermeira foi substituido por um olhar preocupado e tenso... e um silêncio tomou conta da sala. A médica em seguida explicou que eu havia expelido o embrião. Medo, dúvidas e angústia caíram sobre mim naquele momento. Como assim? Eu tinha expelido o meu filho? Não queria acreditar!

Mesmo quando a gravidez é interrompida cedo, o elo entre mãe e filho já foi estabelecido, isso explica a intensidade das emoções que senti naquele momento. Cheguei a sentir fisicamente a dor emocional e apresentar depois disso, sintomas como: fadiga, dificuldades para raciocinar e ataques de choro.

O fato é que as pessoas buscam racionalizar a perda para me confortar: "Melhor assim que perdê-la no meio do caminho" ou "Deus sabe o que faz" e haja estatíticas para me convencer a não chorar. Eu preciso de luto e Deus não tem nada a ver com isso.

Não sei como, mas preciso de luto. O que mais me angustia é não ter parâmetros para tomar a decisão de hoje: o que vai acontecer agora?

Senti muita tristeza. Não da morte, mas do que projetei nessa gravidez. Eu atribui uma transformação pessoal muito grande a esse embrião, que não cresceu, nem crescerá. Agora, se eu quiser, vou ter de transformar sozinha. Seria muito mais fácil se eu estivesse grávida. Agora é só comigo. Não há mais a circunstância transformadora que atribui a esse bebê para me tornar uma mãe. É incrível como a gente precisa se apegar em algo para seguir em frente. Estou triste! Por isso, preciso de luto.

Eu não preciso escarafunchar, nos mínimos detalhes, o conceito de vida para reconhecê-la. É vida! E detalhe: ela já existia antes de mim. Muito antes de eu e o meu marido concebê-la. Por isso, a dor tão misteriosa. Eu não queria assumir isso. Agora não tem jeito. Eu vi, vivi e senti. Posso ignorar? Impossível. Eu sempre lembrarei desse gostinho da descoberta. Da primeira vez que tive esse contato. Por isso, a importância desse luto.

Durante alguns dias, conversei muito com meu marido sobre como me sentia culpada e responsável pelo aborto, conversei com minha médica para entender – absorver – o que tinha acontecido com meu corpo e aquele embrião que parou de ser formar assim, de repente na sétima semana. Li e reli depoimentos de outras mulheres que passaram exatamente pelo mesmo que passei e isso, admito, tem me ajudado imensamente porque tirou o peso e a responsabilidade das minhas costas, me fez entender que não havia sido a primeira e nem a última mulher a sofrer um aborto espontâneo e me trouxe, estranhamente, uma sensação de normalidade, um conforto de pertencer a um grupo de mulheres que como eu lutavam para superar essa perda. Eu não estava mais só.

Cada mulher vai viver esse luto de forma individual e única. Algumas buscarão o silêncio como eu; outras encontrarão conforto no desabafo, no choro dolorido, alto e sem vergonha de mostrar para o mundo a dor que fere e incomoda. Não importa a forma como vai viver esse luto, o fundamental é passar por esse processo que vai permitir, mais uma vez, enxergar possibilidades e ter esperanças.

Hoje, busco conforto nas orações e tenho escutado do meu coração: “Meu bebê, este ser pequenino, que estava na minha barriga, só precisou de dois meses de muito amor para cumprir sua missão na Terra”.

Rezem por mim!








6 comentários:

  1. Anônimo18/12/13

    Aline, o que dizer? nessas horas faltam as palavras que queremos ouvir. Acho importante nos lembrar que você não teve culpa do aborto que sofreu, isto é você não provocou essa morte, foi como o nome diz espontâneo, não se sinta culpada em hipótese nenhuma, fique sim tranquila para uma nova gestação que o seu corpo em breve estará recuperado para poder viver.
    Beijos
    Andresa

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  2. Marcela18/12/13

    Por mais triste que seja todo o seu relato, não tem como negar que é tudo tão lindo! Estranho né?! Mas acho que depois que superamos e, aceitamos, começamos e viver diferente!

    Não tenho a menor noção do que você passou, posso dizer que imagino algo semelhante, embora a dor seja um sentimento muito íntimo, muito particular, mas tenho certeza que se você conseguiu escrever é porque uma nova fase da vida já iniciou!

    Deus abençoe grandemente você!

    beijos, Marcella

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  3. Emocionada, emocionante.
    Lininha vc irá superar isso. Vc é lutadora, forte.
    Em breve terá seu bebezinho para trazer alegrias a sua vida.
    Estou contigo.
    Amo-te.

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  4. Nossa... arrepiada...sem palavras... sem fôlego...
    Lendo seu desabafo consegui ter noção do tamanho da sua dor... do seu luto...
    Nós que estamos de fora tentamos te confortar com palavras mas é como você disse, tudo é em vão... O que posso lhe dizer é que sempre está em minhas orações e sei que seu conforto vem do céu, sei que Deus está cuidando de você a cada instante... e em breve estaremos comemorando a chegada de uma nova vida, um novo ser que virá para iluminar a sua vida ainda mais minha amiga querida... te amo muitooooo

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  5. juliana felicio27/12/13

    Nem sei o que te dizer, so passando por isso pra saber, eu ja sofro por nao conseguir engravidar, imagina um aborto, acho que nao importa qual era o tempo de gestaçao, um, dois meses, o sofrimento deve ser o mesmo. De desejo muita força pra seguir em frente pra vir outro bebe...bjs

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  6. Anônimo30/12/13

    Aline sei o que vc está passando pois passei pelo mesmo,logo Deus lhe trará outro bebezinho como trouxe o meu filho há 4 anos atrás e vcs serão muito felizes Que Deus conforte o seu coração

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