quinta-feira, 19 de maio de 2016

Quando a maternidade nos define


Quando nascemos, basta que cresçamos um pouco e nos reconheçamos como seres humanos, partes integrantes desse mundo, para começarmos uma busca intensa pelo nosso eu verdadeiro, pela nossa missão, pelo nosso caminho. Existem aqueles que parecem já ter nascido sabendo a que vieram, aqueles que têm plena consciência e plena certeza do seu papel nessa vida. Eu não fui uma dessas pessoas.

Já quis ser bailarina, mas nunca fiz uma aula de ballet sequer. Já quis aprender a tocar cavaquinho, mas nunca fui além dos solos que um amigo me ensinou. Já quis dançar jazz, mas compareci a uma aula apenas e nunca mais retornei. Já quis ser jogadora de basquete, treinava na escola, mas desisti no meio do caminho porque achava que meus 1.62 não eram suficientes. Já quis ser fluente em inglês, mas não fui além daquilo que aprendi sozinha através da música e dos livros. Já quis ser publicitária, veterinária, jornalista e até advogada. Já quis ser aquela blogueira super organizada e manter meu blog sempre atualizado com conteúdo e imagens de qualidade, mas já passei meses sem escrever, uma palavra sequer.

De tudo que eu já quis fazer ou que comecei e não terminei, eu poderia facilmente dizer que não tive força de vontade e dedicação suficientes para levar nenhuma dessas coisas adiante. Mas isso não seria completamente verdade. A verdade, é que sempre fui muito perfeccionista e, se não fosse para ser perfeito, eu preferia não fazer. Luto contra isso desde pequena e melhorei muitíssimo nos últimos anos, graças a coisa mais imperfeitamente perfeita que poderia ter me acontecido: a maternidade. Mas ela não esteve sempre aqui. Ela chegou devagar e foi tomando conta, foi abrindo espaço onde parecia não haver.

Sabem aquela amiga, conhecida ou parente que diz desde sempre “eu nasci para ser mãe”? Então, eu não fui essa pessoa. Nunca tive um instinto materno muito aflorado. O que consigo me recordar, porém, é que ser mãe era algo que me intrigava bastante, algo que levava meu pensamento lá para longe, que me fazia ficar com a pulga atrás da orelha. E, principalmente, que fazia meu coração palpitar e dava aquela sensação de embrulho no estômago, sabem? Do tipo que a gente tem quando se apaixona ou antes da descida daquela montanha russa radical que, quando acaba, juramos nunca mais voltar.

Eu nunca soube bem ao certo qual era o meu papel no mundo, o que eu deveria ou desejava fazer. Só sabia e sentia – como provavelmente todas as pessoas desse planeta – que queria amar e ser amada, queria espalhar amor pela vida afora. E foi aí que a maternidade se encaixou com perfeição para mim. Com ela pude experimentar e aprender muito mais sobre mim mesma, sobre os outros e sobre o próprio amor. Com ela, pude conhecer com um olhar microscópico o melhor e o pior que existem aqui dentro. Com ela pude evoluir, graças a cada erro que cometi, graças a cada tropeço e a cada lágrima que deixei rolar em todas as vezes que me senti cansada, frustrada ou impotente.

De repente, é engraçado perceber que mesmo lutando internamente para que a maternidade não pudesse definir totalmente quem eu era, ela acabou, aos poucos, definindo.

Eu, que nem imaginava ser mãe, tenho curiosamente me sentido extremamente feliz e satisfeita assim, exercendo a maternidade de braços abertos, enfrentando os desafios, os dias difíceis e as minhas falhas – que são tantas – com as únicas coisas que posso ter de garantido para oferecer a minha filha: a coragem, o respeito e o amor.

Eu perdi o medo de ser mãe, no exato segundo em que me dei conta de que essa é a minha missão, esse é o meu principal papel no mundo – colocar gente amorosa e amada nessa vida. Quando falamos em ser mãe, parece algo básico, trivial, nada comparado aos grandes feitos, aqueles que mudam os rumos da humanidade. Mas, se formos analisar bem de pertinho, é sim, gente. É enorme.

Se eu ainda quero fazer e ser tudo aquilo que contei lá no início do texto? Claro que quero! Mas, por agora, mãe, apenas, me define: gente forte, guerreira, porreta e cheia de amor. É isso que eu quero ser quando eu crescer.

Esse texto, esse aprendizado, continua nos próximos capítulos – que devem durar a vida toda, eu espero.

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