segunda-feira, 1 de setembro de 2014
Feminista ou consciente?
Mudando um pouco o assunto de gravidez, ontem estava refletindo sobre minha personalidade...
Alguns discursos me cansam, e um deles é o de achar que nós, mulheres, temos uma responsabilidade maior em relação à casa, ao casamento e a tantas outras questões classificadas como "relacionadas ao mundo feminino".
Já ouvi de muita gente que a culpa por “estarmos do jeito que estamos” é do feminismo. Eu não sei como vocês estão, mas eu estou muito bem, obrigada. Considero simplista demais culpar um movimento, neste caso o feminismo, por uma evolução que, ao meu ver, é de certa forma natural e muito mais complexa do que o “simples” ato simbólico de queimar sutiãs em praça pública.
Ora, os tempos mudam, as coisas mudam, as espécies mudam, e nós também mudamos. Se isso é totalmente bom eu não sei dizer. Se isso é de todo ruim? Também acho que não.
Algumas pessoas fazem uma comparação em relação à vida que levamos hoje e a vida que nossas avós e bisavós levavam antigamente. E essa comparação muitas vezes é tendenciosa, com pitadas de um certo romantismo que, sinceramente, eu duvido muito que existia. Duvido que nossas avós e bisavós também não tivessem problemas, não tivessem suas dúvidas e suas crises existenciais, que não sofressem por causa de um casamento infeliz mantido pelas aparências e pela dependência (seja ela financeira ou emocional), que não tivessem problemas com os filhos, que não sofressem traições e privações.
Essa imagem de mulher feliz e realizada de antigamente, cuidando sozinha e com muito prazer de todos os afazeres da casa, cuidando de 5,6, 8 filhos (como foi o caso da minha avó), colhendo frutas no quintal de casa usando um avental florido, ao meu ver não passa de uma idealização romântica do que poderia ter sido, mas não foi.
A mulher de antigamente não votava, não podia se separar (só o homem podia pedir a separação), não podia nem ser solteira (o que era visto como uma desgraça), motivo de vergonha para a família. Ela não frequentava universidades, não tinha profissão. A mulher do passado só existia enquanto esposa e mãe, o que significa que naquele tempo não casar e não ter filhos não era uma opção.
Mulher não escrevia livro, nem poema, e nem blog. Muitas nem sequer sabiam ler.
Eu cresci vendo meu pai ajudando a minha mãe com todo o tipo de trabalho, sem restrições. Na minha casa reproduzimos um modelo bem parecido, meu marido me ajuda com todos os trabalhos domésticos (mesmo que de vez em quando eu tenha que lembrá-lo), e não se sente diminuído por isso, muito pelo contrário, ele sente prazer em cooperar. Eu não tenho vergonha de ver (e nem de dizer) meu marido limpando casa, eu tenho orgulho. Eu não sinto culpa quando ele cozinha pra mim, eu me sinto tranquila em saber que posso contar com ele pro que der e vier, conforme prometido.
O que seria o casamento senão uma parceria entre sócios igualitários? Não existe menor ou maior parcela pra ninguém, somos os dois responsáveis por fazer com que o nosso relacionamento (assim como a nossa casa) funcione de forma que possamos nos sentir felizes e não menos importante, leves e descansados.
Se eu sou feminista, eu não sei, mas sei que machista eu também não sou. Tenho plena consciência de todos os problemas vindos da chamada vida moderna, mas não trocaria a minha autonomia de hoje (mesmo com todos os problemas) pela dependência e pela subcondição de mulher de outros tempos. Seria ótimo encontrar um equilíbrio, mas na falta deste, deixo como está.
Será que eu sou feminista?
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